FEIRA DE
CIÊNCIAS - Passo a Passo
Passo a passo, a feira vira um sucesso
Já no Ensino Fundamental, todos podem
desenvolver e exibir experimentos inspirados em problemas reais
Paulo
Araújo - Leia e Compartilhe o Texto na íntegra em
As feiras de Ciências evoluíram.
Nos últimos cinco anos, os professores inovaram a forma de planejar o evento e,
consequentemente, de os alunos produzirem e transmitirem o conhecimento. As
mostras agora são organizadas com propósitos didáticos. "Os estudantes
passaram a utilizar o método científico para desenvolver seus inventos e não
ficam mais atrás de uma maquete, só repetindo informações tiradas do livro
didático", explica Roseli de Deus Lopes, vice-presidente da Estação
Ciência da Universidade de São Paulo (USP).
"O desafio que se apresenta é
ampliar esse foco para as séries iniciais do Ensino Fundamental", diz a
professora. A tarefa exige planejamento. Primeiro, é necessário tornar a
Ciência algo rico e instigante para todos. Os temas a ser explorados não vão
trazer avanços significativos para a área — nem é esse o propósito.
Os trabalhos podem ser
simples, desde que sejam criativos e façam sentido para a garotada e a
comunidade.
Por fim, é necessário que a turma saiba
quais são as etapas de uma pesquisa e a importância de registrar todas as
descobertas. Roseli defende essa concepção com a experiência de quem se dedica
há quatro anos à organização da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia
(Febrace). No evento, são apresentados os melhores projetos de 8ª série e
Ensino Médio, exibidos originalmente em 200 escolas públicas e particulares de
22 estados. No mês passado, nove trabalhos selecionados durante a última
Febrace representaram o Brasil no maior encontro de Ciências e Engenharia do
mundo, realizado em Indianápolis, nos Estados Unidos (leia o quadro).
As produções de sua escola também podem chegar lá. Para isso, é
importante cumprir as cinco etapas a seguir. Elas são baseadas na prática de
professores da rede pública e privada de Ensino Fundamental e nas indicações de
especialistas no tema.
Participar da feira
de Ciências...
• Desperta o gosto pela pesquisa.
• Inspira trabalhos em grupo.
• Incentiva a busca de soluções para problemas reais.
• Favorece a sistematização do conhecimento.
• Para um evento de primeira
• Faça parcerias com empresas e lojas da sua cidade. Não é demérito informar
que elas ajudaram financeiramente.
• Promova um concurso na escola para a criação de cartazes e logomarcas para
divulgar a feira.
• Convide a imprensa local para cobrir o evento.
• Guarde com cuidado todos os objetos. Eles podem voltar a ser exibidos em
outras ocasiões.
1. Despertar o gosto pela Ciência
Envolver os pequenos no mundo da Ciência
logo cedo e de forma prazerosa é o primeiro passo para organizar uma boa mostra
Para estimular o interesse pela
disciplina, não é necessário ter um laboratório sofisticado. "Basta
promover uma visita a um museu ou a um planetário para que o festival de
perguntas sobre determinado tema não tenha mais fim. Esse já é um ótimo
incentivo", sugere Domingues..
2. Ensinar as etapas do método
científico
Para que o evento leve realmente à
produção de Ciência, a garotada precisa aprender a aplicar o método científico
— à medida que o projeto se desenvolve. "É da necessidade de encontrar
soluções para problemas da vida diária que nascem o conhecimento e as atrações
de uma feira", explica Rosenilda Vilar, professora da EE Ministro Jarbas
Passarinho e do Colégio Anglo Líder, ambos em Camaragibe, região metropolitana
do Recife.
3. Apontar o valor de registrar as
descobertas
"Não existe Ciência sem
registro", ressalta Roseli Lopes, da USP. Por isso, é preciso colocar no
papel as etapas realizadas — com a ajuda do professor de Língua Portuguesa. O
texto não precisa ser acadêmico, com notas de rodapé. Mas deve ser claro e
detalhado.
O hábito de anotar o passo-a-passo foi
incorporado pelas classes de Rosenilda. Um grupo da escola Ministro Jarbas
Passarinho estudou como a globalização alterou o artesanato de Caruaru, no
agreste pernambucano. Na cidade de mestre Vitalino (1909-1963), famoso por seus
bonecos de argila pintados a mão, a equipe entrevistou o filho do artista. Os
dados passados por ele e os pesquisados foram usados para comparar a versão
artesanal e a industrial dos bonecos, compondo o registro.
4. Preparar a turma para a exposição
do trabalho
Nos dias da mostra, o conhecimento
sistematizado durante a pesquisa deve ser apresentado aos visitantes por meio
da fala e de cartazes, folhetos, maquetes e engenhocas. É importante não
repetir oralmente informações escritas e procurar sempre interagir com as
pessoas. "Principalmente os mais tímidos devem ser incentivados a falar em
público", aconselha Elenice Lobo, coordenadora pedagógica do Santo
Américo.
5. Organizar a infra-estrutura
São necessários pelos menos quatro
meses para organizar uma boa feira. "Esse período é suficiente para
analisar as sugestões de temas apresentadas pela garotada, realizar pesquisas, visitar
museus e universidades e montar o evento", afirma Maria Edite Costa Leite,
coordenadora do Setor Educativo do Espaço Ciência, em Olinda.
O sucesso não depende de estrutura
luxuosa. "Se a escola não tem dinheiro para alugar estandes, expõe os
trabalhos nas carteiras", sugere. Há várias formas de planejar o espaço,
sempre de acordo com a arquitetura do local. Uma opção é exibir tudo no pátio
ou dividir as experiências nas salas e nos laboratórios. O tempo ideal é de
dois a três dias. No final, todos podem votar nos melhores projetos e
inscrevê-los nas feiras regionais e nacionais espalhadas pelo Brasil. O sucesso
das invenções verde-amarelas tem sido uma constante lá fora nos últimos anos.
BIBLIOGRAFIA
Primeiros Passos na Construção do Saber Científico, Rosenilda Vilar, 74 págs., Ed. do Auto